quinta-feira, 24 de maio de 2012

Falta-nos um presente


Falta-nos um presente
...
não nos chegam os nossos anos para envelhecermos juntos
e irmos cansados ao cinema
e assistirmos ao ponto final da guerra entre Atenas e seus vizinhos
e vermos a cerimónia de paz entre Roma e Cartago
em breve.
E em breve as aves migrarão de um tempo para outro.
Será este caminho poeira
sob a aparência de sentido, ter-nos-á conduzido
a uma viagem efémera entre dois mitos:
será isso necessário, seremos nós necessários,
como um estranho que se vê a si mesmo nos espelhos da sua estranha?


Mahmûd Darwîsh
O leito de uma estranha (1999)
Tradução: André Simões

versão preliminar


كان يَنْقُصْنا حاضِرَ
...
لم يكن عُمْرُنا كافِياً لِنشيخِ معاً
ونسيـرَ إلى السينما مُتْعِبَين
ونَشْهَدَ خاتَمةَ الحَرْبِ بَين أَثينا وجاراتها
ونرى حَفْلةَ السَلَمِ ما بين روما وقرطاج
عمَّا قليل.
فعمَّا قليلٍ سَتَنْتَقَلَ الطَيْرُ من زَمَنٍ نَحو آخَرَ
هل كان هذا الطَريقُ هَباءً
على شَكْلِ مَعْنَى، وسارَ بِنا
سَفَراً عابِراً بَينَ أُسْطورتَين،
فلا بُدَّ مِنهِ ولا بُدَّ مِنا
غَريبًا يَرَى نَفَسَهُ في مَرايا غَريبَتِهِ؟

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